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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Metamorfose

Nasceu,
comeu bastante,
enrolou-se numa folha,
teceu escuridão
viveu um tempo assim

Cresceu,
quis ser irradiante,
flutuar feito bolha,
criou motivação
e saiu para ser a estrela do jardim


Amigo

Meu melhor amigo se foi,
Não sei por quanto tempo,
Saiu arrumado
Dizendo que estava cansado do trabalho
Não sei bem

Mas ele está pra chegar
Sei disso
Posso sentir...
Ouço o barulho do seu carro

Ele entra,
Pulo o mais alto possível para alcançá-lo
Ganho um afago
E deixo ele perceber que estou feliz

Abro os olhos,
ele está prestes a sair,
de novo

Meu melhor amigo se foi,
Não sei por quanto tempo dessa vez,
Saiu apressado,
Ao atravessar a rua foi atropelado.
Demoraria um tempo para eu saber
Que dessa vez ele não voltaria
Não sei quanto tempo se passou,
No fundo, ainda espero...
Não sei bem.


Onda

Navegando pelas ondas do rádio
Te encontro na categoria "reggae"
Que surpresa!
Já não me lembro do seu nome,
me pergunto se seria flor que se regue...


segunda-feira, 18 de maio de 2015

O que o jornal não diz

O jornal noticiou uma morte sem intenção.
Mas eu sei,
só eu sei,
que naquele dia Pedro saiu todo mal-intencionado
Arrumado,
cabelo penteado,
apressado,
transtornado.

Dobrou a esquina
sem olhar pra trás
Quis esquecer o que já não tinha,
Não pôde.
Tudo lhe remetia ao passado,
achou que seu sofrer havia de ser vingado.

E o fez.

Fez o homem que veio do pó, ao pó voltar
Fez o caminho de volta para casa
Fez a barba
Fez o café
Fez-se chorar,
arrepender,
atentar contra a própria vida,
hesitar,
mentir para si, para os outros
pensar em fugir.

Fugiu,
emaranhou-se em pensamentos outros,
tentou iludir-se,
e desistiu de pensar.

Morreu com aquilo,
e eu também morri.