Meu melhor amigo se foi, Não sei por quanto tempo, Saiu arrumado Dizendo que estava cansado do trabalho Não sei bem Mas ele está pra chegar Sei disso Posso sentir... Ouço o barulho do seu carro Ele entra, Pulo o mais alto possível para alcançá-lo Ganho um afago E deixo ele perceber que estou feliz Abro os olhos, ele está prestes a sair, de novo Meu melhor amigo se foi, Não sei por quanto tempo dessa vez, Saiu apressado, Ao atravessar a rua foi atropelado. Demoraria um tempo para eu saber Que dessa vez ele não voltaria Não sei quanto tempo se passou, No fundo, ainda espero... Não sei bem.
O jornal noticiou uma morte sem intenção. Mas eu sei, só eu sei, que naquele dia Pedro saiu todo mal-intencionado Arrumado, cabelo penteado, apressado, transtornado. Dobrou a esquina sem olhar pra trás Quis esquecer o que já não tinha, Não pôde. Tudo lhe remetia ao passado, achou que seu sofrer havia de ser vingado. E o fez. Fez o homem que veio do pó, ao pó voltar Fez o caminho de volta para casa Fez a barba Fez o café Fez-se chorar, arrepender, atentar contra a própria vida, hesitar, mentir para si, para os outros pensar em fugir. Fugiu, emaranhou-se em pensamentos outros, tentou iludir-se, e desistiu de pensar. Morreu com aquilo, e eu também morri.