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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Morada da rua

Desque que nasceu
Não soube o que é ter lar.

Não sabia brincar,
Não sabia ler,
Não sabia ver além.

Não tinha teto,
Não tinha afeto,
Não tinha acesso,

Não tinha medo,
desejo,
apreço,
por nada,
nem ninguém.

A vida lhe ensinou a não ter tudo,
A ser duro,
Maduro.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Geladeira

De tanto ser fria,
congelei as ondas do rádio,
o sinal da tv
e a energia de toda a casa.

Mas, no dia do degelo,
Desliguei-me por um instante,
(Somente)
E a casa inteira voltou a ser valsa.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Metamorfose

Nasceu,
comeu bastante,
enrolou-se numa folha,
teceu escuridão
viveu um tempo assim

Cresceu,
quis ser irradiante,
flutuar feito bolha,
criou motivação
e saiu para ser a estrela do jardim


Amigo

Meu melhor amigo se foi,
Não sei por quanto tempo,
Saiu arrumado
Dizendo que estava cansado do trabalho
Não sei bem

Mas ele está pra chegar
Sei disso
Posso sentir...
Ouço o barulho do seu carro

Ele entra,
Pulo o mais alto possível para alcançá-lo
Ganho um afago
E deixo ele perceber que estou feliz

Abro os olhos,
ele está prestes a sair,
de novo

Meu melhor amigo se foi,
Não sei por quanto tempo dessa vez,
Saiu apressado,
Ao atravessar a rua foi atropelado.
Demoraria um tempo para eu saber
Que dessa vez ele não voltaria
Não sei quanto tempo se passou,
No fundo, ainda espero...
Não sei bem.


Onda

Navegando pelas ondas do rádio
Te encontro na categoria "reggae"
Que surpresa!
Já não me lembro do seu nome,
me pergunto se seria flor que se regue...


segunda-feira, 18 de maio de 2015

O que o jornal não diz

O jornal noticiou uma morte sem intenção.
Mas eu sei,
só eu sei,
que naquele dia Pedro saiu todo mal-intencionado
Arrumado,
cabelo penteado,
apressado,
transtornado.

Dobrou a esquina
sem olhar pra trás
Quis esquecer o que já não tinha,
Não pôde.
Tudo lhe remetia ao passado,
achou que seu sofrer havia de ser vingado.

E o fez.

Fez o homem que veio do pó, ao pó voltar
Fez o caminho de volta para casa
Fez a barba
Fez o café
Fez-se chorar,
arrepender,
atentar contra a própria vida,
hesitar,
mentir para si, para os outros
pensar em fugir.

Fugiu,
emaranhou-se em pensamentos outros,
tentou iludir-se,
e desistiu de pensar.

Morreu com aquilo,
e eu também morri.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Alice

Sob o canto de uma voz branda
vinda de fora,
sabe-se lá de onde,
e a luz de seu abajur,
Alice pôs-se a escrever.

E escreveu cada letra
como uma peça de quebra-cabeça
calmamente,
e, de repente,
ficou em dúvida entre ler e ser:

Abriu a porta,
olhou lá fora,
subiu em uma árvore no quintal,
laranjeira,
se jogou,
e na queda pôde alcançar uma folha verde,
a segurou aberta entre as mãos,
e desceu, flutuou
como uma pluma.

Não chegou a tocar os pés no chão,
uma brisa a levou para longe,
para o bosque da cidade.

Assim que sentiu a firmeza do solo, soltou a folha
que repousou lentamente numa fonte,
cristalina,
com uma placa.
Aproximou-se,
podia-se ler:
"Uma moeda por um desejo"

E desejou ter o mais belo de todos os sonhos!

Lançou uma moeda.
Teve sono,
bocejou,
quis manter-se acordada,
desbravar os mistérios do bosque,
mas não,
dormiu...

A luz do sol a fez abrir os olhos
num despertar vagaroso,
tinha em sua mão um lápis
e alguns rabiscos
que ela mesma tinha feito.

Levantou da cadeira,
foi até o espelho...
Ainda era ela mesma,
mas ainda assim,
ficou em dúvida entre ler e ser...


terça-feira, 14 de abril de 2015

Morada

Quando a brisa cessar,
saberei que foi o último suspiro,
sua última tentativa...
E, mesmo assim,
saberei que está bem.
O saberei sem vê-lo.
Pois tudo o que sentes mora em ti,
mas repousa, ao cair da noite, em meus ombros...


segunda-feira, 13 de abril de 2015

terça-feira, 7 de abril de 2015

Após...

Sente...
Cheiro de café,
como numa manhã qualquer,
não é.
Aquele aperto no coração,
Sensação
de sentimentos em turbilhão?
Em vão.
Desejo de ter seus olhos abertos,
estão cobertos.

Antes fosse de pesadelos,
medos,
anseios.

Mas o que lhes cobrem é terra,
em terra.

Imóvel, inerte, quase incolor.
Não ouve, não fala, não se mexe,
Não lhe apetece.

Sua mente voa,
Quer voar.
Esquecer,
Pensar em nada.
Estar fora dali,
onde for...

E eu que só escrevia sobre amor,
hoje, dor.





sexta-feira, 27 de março de 2015

Dentro










Sentou junto aos outros
E debulhou o texto decorado,
Imergiu em seu discurso:
Disse que jamais havia fumado.
Tentou argumentos desesperados.
Olhou profundamente nos olhos daqueles desocupados,
Que só estavam ali sentados, aguardando a próxima jogada do baralho.
Era um recanto esquecido, onde deveriam tratar-se os viciados,
E aquele sujeito focado, tentou convencer,
Ficou intrigado com o pouco interesse despertado...
Já não era mais ele mesmo, tinha perdido o jeito, era algum outro, desconhecido, esmaecido, desamparado,
Sem mais forças e palavras, ficou ali, estagnado
Irresoluto, olhar fixo...

Não pôde manter-se calado:
"- Por favor, passe-me um cigarro"


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

PerdidaMente

Acho que essa minha mensagem
ficou perdida no espaço-tempo...
Acho que estou perdida.
E que, talvez, você me encontre pela vida,
Perdida,
Mente apaixonada ainda.